Refletir e discutir sobre o preconceito velado na sociedade brasileira, e sobre a invisibilidade dos negros na literatura brasileira. Esses dois temas foram abordados durante a 7ª edição do Dia da Consciência Negra, realizada pela Escoop, nessa quinta-feira (21/11).
De acordo com a professora Rejane Kieling, o evento possibilita a reflexão e uma postura diferente em relação ao tema. “O Dia da Consciência Negra nasceu junto com a Faculdade. Com essa vontade não ser somente um dia que constasse no calendário, mas ser um dia realmente de reflexão, de nos sacudir, de nos colocarmos em confronto com os nossos preconceitos, com a nossa forma de enxergar o outro. O cooperativismo tem essa base, como nós enxergamos o outro, como nós nos colocamos no lugar do outro. Nada mais apropriado do que a gente utilizar esse dia da consciência negra, essa semana, para nós nos posicionarmos e gradativamente nos modificarmos, termos uma outra postura a essas questões tão sensíveis e delicadas no nosso dia a dia”, explica.
Invisibilidade dos negros na literatura brasileira
Um dos temas debatidos este ano trouxe uma reflexão sobre o quanto a literatura brasileira é “branca” ou “europeia”. E justamente para contrapor e falar sobre esse assunto, a professora de Literatura com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Ana dos Santos, trouxe exemplos de autores afro-brasileiros, com a visão de mundo negra, a linguagem, ritmos, significados, vocabulário e leitores afrodescendentes.
“Nem todo país africano é negro. Mesmo nos países africanos de língua portuguesa, os escritores brancos não têm como prioridade em seu projeto literário a luta contra o preconceito racial”, afirma Ana. A escritora e poetisa tem uma pesquisa que explora a ausência de escritores negros, principalmente escritoras negras, na literatura brasileira. “Machado de Assis, um dos grandes nomes da literatura brasileira, sempre foi retratado como escritor branco, mas ele era negro. Lima Barreto e o poeta João da Cruz e Sousa, ou Cruz e Souza, conhecido como ‘Dante Negro’ ou ‘Cisne Negro’, foram dois outros expoentes da literatura afro-brasileira”, contextualiza.
Em sua pesquisa, Ana dos Santos traz alguns exemplos de mulheres negras que foram destaques na literatura afro-brasileira, como Maria Firmina dos Reis, Auta de Souza, Ruth Guimarães e Carolina de Jesus, que teve uma carreira meteórica e também compôs sambas.
Preconceito velado
“O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se – basta a simples reflexão”. Esse pensamento é do autor Machado de Assis e retrata o que o Dia da Consciência Negra da Escoop trouxe como reflexão. Durante o evento, as professoras da Escoop responsáveis pela coordenação dos trabalhos, Rejane Kieling e Rosane Zimmer, organizaram o ambiente com frases de pessoas famosas que remetem à ideia de um preconceito velado, introspectivo em sua essência.
O integrante do Núcleo da Educação, Cultura, Ambiente e Sociedade (Neas) da PUCRS, e pesquisador do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Neabi) da PUCRS, Alan Barcellos, participou do debate e compartilhou sua experiência nas áreas de pesquisa, educação para as relações étnico-raciais e educação de jovens e adultos.
Pensamentos positivos
A edição deste ano contou com um layout muito particular e criativo. Sob o comando das professoras Rejane e Rosane, o ambiente foi decorado com fitas coloridas de lembrança do Senhor do Bonfim. Junto delas, mensagens e pensamentos positivos e reflexivos sobre o preconceito.