Fomentar a produção científica no campo do cooperativismo e ser referência em ensino e pesquisa no setor. É com essa proposta que a Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo – Escoop investe em projetos de pesquisa voltados para as necessidades da gestão moderna em cooperativas. Uma das novidades fica por conta do estudo elaborado pelo professor da instituição, Fernando Dewes, que busca construir um modelo de liderança específico para cooperativas, denominado de liderança cooperacional. O propósito é subsidiar a formulação de programas de desenvolvimento de lideranças para o setor.

De acordo com o professor, a organização cooperativa possui particularidades que devem ser observadas em relação a empresas mercantis.

Gerenciar e administrar um empreendimento cooperativo é diferente de administrar uma empresa mercantil, pela própria natureza, a doutrina do cooperativismo, os princípios e valores, que impõem um líder com um perfil diferente. E é nessa linha de pesquisa que o nosso projeto atua

Nesse contexto, qual é o líder ideal para a governança cooperativa? Quais são as forças que levam a pessoa a decidir liderar no empreendimento cooperativo? Essas são questões que a pesquisa pretende elucidar. “O estudo atual busca identificar as forças motivacionais que levam uma pessoa a assumir o papel de líder na cooperativa”, afirma Dewes.

Sescoop/RS apoia projeto de pesquisa

Para isso, a pesquisa, que teve início em julho de 2015 e conta com o apoio do Sescoop/RS, foi aplicada com mais de 200 trabalhadores de cooperativas, incluindo executivos, dirigentes, assessores, conselheiros e associados. “Saber o que leva esses profissionais a querer ser líder no cooperativismo é a questão central que nós estamos querendo responder nesse trabalho”, afirma o professor, que pretende estar com o estudo finalizado até julho deste ano.

O projeto ainda está na fase de análise de informações, mas de acordo com os dados preliminares coletados, aponta a responsabilidade social como a motivação principal dos líderes de cooperativas. “As pessoas se sentem responsáveis, elas veem outras liderando, veem que elas estão cumprindo com o seu dever, ou seja, a liderança nesses casos é o cumprimento do dever, é uma obrigação, é um dever que tem um associado em assumir a liderança”, afirma o professor da Escoop.

Dewes comenta que a identificação dos fatores motivadores para liderar nas cooperativas determina o impacto que isso causa no próprio papel do líder e no seu desempenho. “Depois que a gente determinar isso dentro das delimitações de estudo, naturalmente, nós vamos associar isso a um outro estudo que a gente já fez, buscando os traços do líder do cooperativismo”, complementa.

Segundo a pesquisa, uma das características do líder no cooperativismo é que ele necessita ter habilidades de negociação mais destacadas do que numa empresa mercantil, em virtude da complexidade de interesses e conflitos existentes na gestão de uma sociedade cooperativa.

Para o presidente da Sicredi Pioneira RS, Márcio Port, o crescimento das cooperativas exige que o modelo de gestão das mesmas seja revisto. “Já não faz sentido o modelo tradicional onde havia um presidente e/ou executivo forte e poucos assuntos estratégicos eram discutidos no conselho de administração em virtude deste ser formado por pessoas com pouco conhecimento técnico”, afirma o presidente da primeira cooperativa de Crédito da América Latina, com sede em Nova Petrópolis.

Sobre o perfil de liderança, Port destaca a importância da gestão democrática, compartilhada com várias pessoas. “É preciso um novo modelo de liderança, no qual o presidente ou o executivo aceitem que não são os únicos que detêm o conhecimento, aproveitando as potencialidades e conhecimentos dos conselheiros de administração, tornando a gestão realmente democrática, compartilhada com várias pessoas”, ressalta.

Além da dimensão técnica da gestão profissional, Dewes chama a atenção para as competências comportamentais. “A dimensão comportamental depende da própria personalidade, tem valores incluídos, motivações e habilidades interpessoais que não vêm somente com o conhecimento, isso não está só no plano intelectual, está no plano emocional, está no plano comportamental, então esse é o esforço que estamos fazendo, no sentido de paralelamente ao desenvolvimento de competências técnicas fortalecer o desenvolvimento de competências comportamentais”.

Dewes afirma que o trabalho complementa de forma robusta e importante a formação técnica do gestor, além de inspirar a busca de novas lideranças no cooperativismo. “Futuramente quero fazer um mestrado aqui e ajudar a desenvolver o campo do cooperativismo dentro do Estado e no Brasil, me formando como uma liderança cooperativa e ajudando a fomentar dentro do campo cooperativo novas lideranças”, afirma o sociólogo e graduando da Escoop, Marcelo Ximenes, que participa da pesquisa junto com o professor.

“O cooperativismo foi o campo de trabalho que eu escolhi para a minha vida. Na Escoop eu encontro espaço de aprendizado e de pesquisa”, completa Ximenes.

Entenda mais sobre a pesquisa

A pesquisa trabalha com subsídios fornecidos pela Teoria da Agência e a Teoria da Personalidade do Líder, além de ser guiada pelo modelo de Motivação para Liderar (Motivation to Lead), formulado em 2001, por pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

A Teoria da Agência examina particularidades da relação do gestor contratado para dirigir o empreendimento com o proprietário que o contratou. No caso das cooperativas, o gestor é proprietário também (associado), podendo resultar em conflitos de agência, impactando o seu próprio desempenho como líder.

Na Teoria da Personalidade do Líder, o foco principal é identificar características pessoais do líder. No caso das cooperativas, uma das questões mais importantes é a verificação de possíveis diferenças entre os líderes de empresas mercantis e de cooperativas.

O estudo é guiado também pelo modelo de Motivação para Liderar (Motivation to Lead), trabalho desenvolvido por dois pesquisadores da Universidade de Illinois nos Estados Unidos, que envolve três grandes motivadores para a liderança. Um dos motivadores é porque a pessoa se identifica com o papel de líder, ou seja, a personalidade dela combina, é compatível com o exercício da liderança, o que eles chamam de “identificação afetiva”. Muitas pessoas lideram porque tem no seu perfil de personalidade a compatibilidade, a atração ou o gosto pela liderança em si.

Em outro grupo, as pessoas lideram porque elas estão interessadas nos benefícios pessoais, isto é, o que elas ganham através do exercício da liderança. Esse ganho pode ser em termos econômicos ou gratificações psicológicas, não importa, pode ser status, prestígio, qualquer coisa, a pessoa lidera em função do resultado pessoal que ela pode ter pela liderança.

No terceiro grupo de motivadores, as pessoas lideram porque se sentem responsáveis por uma questão de norma social, ou seja, as pessoas numa cooperativa aceitam e exercem o papel de líderes porque elas se sentem responsáveis.

Da esquerda para a direita: o sociólogo e graduando da Escoop, Marcelo Ximenes, e o professor da Escoop, Fernando Dewes / Foto: Leonardo Machado

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